Terceira parte da entrevista ao Prof. Dr. João Luís Silva Carvalho, um dos maiores investigadores do mundo na área da infertilidade. A paixão pela sua atividade transparece em cada palavra desta entrevista, fértil em informações que vão ajudar muitos casais que têm problemas em engravidar (e não só). Leia tudo aqui!
Esta é a terceira parte da entrevista ao Prof. Dr. João Luís Silva Carvalho, um dos maiores investigadores do mundo na área da infertilidade.
Leia a primeira Parte da Entrevista »
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FICARGRAVIDA.COM (FG): No seu contacto com pacientes, provavelmente depara-se, frequentemente, com desinformação em relação a muitos temas. Quais os mitos associados a esta realidade?
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FICARGRAVIDA.COM (FG): No seu contacto com pacientes, provavelmente depara-se, frequentemente, com desinformação em relação a muitos temas. Quais os mitos associados a esta realidade?
PROF. DR. JOÃO LUÍS SILVA CARVALHO (JLSC): Os principais mitos resultam da ausência de conhecimento sobre os mecanismos de reprodução, de fertilidade em geral, e sobre o tipo de tratamentos que podem ser efectuados. Estes mitos têm o seu quê de antagónico, já que muitas pessoas pensam que os problemas de infertilidade não têm solução e outras, pelo contrário, que qualquer que seja o obstáculo a medicina dispõe de recursos que tudo permitem resolver. Ambos os conceitos são falsos.
Poderia ainda referir outros mitos, como o de que a infertilidade poderá ser provocada pelo uso prolongado da pílula, que depende da sorte ou do destino, que só pode ser resolvida por procriação medicamente assistida, e vários outros que, no fundo, resultam de uma acentuada falta de conhecimentos.
FG: Quais são os receios mais comuns nestes pacientes? Que conselhos dá a um casal quando este inicia o processo de procriação medicamente assistida?
FG: No Centro de Estudo e Tratamento de Infertilidade (CETI) realizam vários tratamentos para infertilidade:
a) Em que consiste a Indução e Estimulação da ovulação com monitorização ultrassonográfica para fecundação espontânea? Para que casos é aconselhada?
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JLSC: Indução e estimulação da ovulação significam a utilização de medicamentos que vão estimular o ovário a produzir um ou dois óvulos de melhor qualidade que possam ser fecundados pela actividade sexual normal do casal. Obviamente está recomendada para as situações de ausência ou defeito da ovulação.
FG: b) Em que consiste a Inseminação Intra Uterina (IIU)? Para que casos é recomendada?
FG: b) Em que consiste a Inseminação Intra Uterina (IIU)? Para que casos é recomendada?
JLSC: A inseminação intrauterina, como todos os métodos que proporcionam a fecundação “in vivo”, isto é, no interior do corpo da mulher, tem por racional, que se conseguirmos melhorar a quantidade e a qualidade dos gâmetas no local da fecundação, aumentaremos a probabilidade de gravidez. Assim, os ovários da mulher são estimulados para “produzirem” 1/2 óvulos e, na altura em que estiverem para ocorrer as ovulações, são lançados para a parte alta do aparelho genital feminino (para dentro do útero) uns milhares de espermatozóides previamente escolhidos e preparados. Esta técnica exige que os gâmetas tenham mínimos de quantidade e qualidade, e que a funcionalidade dos órgãos femininos esteja integra.
FG: c) Em que consiste a Fecundação in Vitro (FIV)? Em que casos se recorre a esta técnica?
JLSC: Quando por ausência de integridade morfológica / funcional da parte superior do aparelho genital da mulher ou por insuficiente quantidade e/ou qualidade de gâmetas não é possível realizar a inseminação intrauterina, há necessidade de recorrer à fecundação in vitro - FIV. Neste procedimento a fecundação ocorre no exterior do corpo da mulher (no laboratório). Os ovários da mulher são estimulados para produzirem vários óvulos (6/7) que são retirados para o exterior por punção folicular guiada por ultrasonografia. Os espermatozóides são escolhidos e preparados, de forma idêntica ao efectuado para a inseminação intrauterina, e colocados em contacto e em ambiente apropriado (meio de cultura) com os ovocitos recolhidos na punção. A fecundação ocorre autonomamente nos aparelhos do laboratório, “in vitro”. Ocorrida a fecundação, o ovocito fecundado evolui para embrião que se vai desenvolvendo (multiplicando as suas células) enquanto é mantido em meio de cultura adequado a fornecer-lhe os nutrientes que necessita para o seu metabolismo. Este desenvolvimento ocorre durante 2 /3 dias (podendo chegar até 6) após o que o(s) embrião(ões) são colocados em cateteres especialmente desenvolvidos para permitirem a sua colocação no interior do útero da mãe (entretanto preparado com hormonas para acolher e proporcionar implantação aos embriões).
FG: d) Em que consiste a Microinjecção Intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI)? Para que casos é utilizada?
JLSC: Em situações específicas, em particular de factor masculino grave, por diminuição da quantidade, da motilidade, ou por alterações na morfologia dos espermatozóides, não ocorrerá fecundação autónoma “in vitro”. Nestes casos, é necessário introduzir o espermatozóide no interior do ovocito. Esse processo, de introdução no citoplasma ovocitario, de um espermatozóide escolhido, é efectuada por intermédio de um microscópio com sistemas especiais e chama-se microinjecção intracitoplasmática de espermatozóide - ICSI. Após a fecundação, o restante tratamento decorre da forma já descrita para a FIV.
As taxas de sucesso por ciclo de tratamento situam-se entre os 30% e os 40%, o que é diferente de falar da probabilidade de um casal resolver o seu caso de infertilidade. Se um casal realizar 3 tentativas a probabilidade de resolução é muito elevada.
FG: e. Em que consiste a “Assisted Hatching” ou Eclosão assistida? Em que casos se recorre a este procedimento?
JLSC: “Assisted Hatching” ou “Eclosão assistida” é a fragilização, ao microscópio, da membrana que envolve a massa embrionária, de forma a permitir a sua mais fácil extrusão no ambiente uterino e facilitar a implantação. Só se recorre a este tipo de procedimento em situações de insucesso, prévio e repetido, de tratamentos de procriação medicamente assistida.