Segunda parte da entrevista ao Prof. Dr. João Luís Silva Carvalho, um dos maiores investigadores do mundo na área da infertilidade. A paixão pela sua atividade transparece em cada palavra desta entrevista, fértil em informações que vão ajudar muitos casais que têm problemas em engravidar (e não só). Leia tudo aqui!
Esta é a segunda parte da entrevista ao Prof. Dr. João Luís Silva Carvalho, um dos maiores investigadores do mundo na área da infertilidade.
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FICARGRAVIDA.COM (FG): A infertilidade é hoje um problema cada vez mais comum: na sua opinião, qual a explicação para o aumento da prevalência?
PROF. DR. JOÃO LUÍS SILVA CARVALHO (JLSC): De facto, a infertilidade é um problema cada vez mais comum. Em Portugal atingirá cerca de 9% dos casais, o que significa um total de 260.000 casais com 120.000 ainda em idade reprodutora. O aumento de prevalência relaciona-se com múltiplos factores, de que salientaria o estilo de vida, um importantíssimo factor com influência na fertilidade feminina. Diversos factores inerentes ao estilo de vida nas sociedades modernas, de que são exemplo o stress, o adiar da primeira concepção para idades tardias da vida da mulher, as alterações no peso / massa corporal, o exercício físico exagerado e o consumo de medicamentos, de tabaco, alcool e drogas, têm importante influência na fertilidade, sobretudo por interferência no funcionamento do complexo eixo endócrino cujo objectivo último é o de uma ovulação adequada.
Este eixo envolve as actividades, síncronas e ajustadas, do sistema nervoso central e de diversas glândulas endócrinas. Este sistema é de grande sensibilidade e um subtil desafinamento em qualquer dos seus pontos leva a que o produto final, a ovulação, fique afectado. Por isso são tão frequentes as perturbações da ovulação como causa de infertilidade.
Também factores ligados ao ambiente e à alimentação actuam como “disruptores endócrinos”, originando pequenos desequilíbrios hormonais e prejudicando a fertilidade. Lembremo-nos da alimentação dos animais com produtos contendo hormonas, ou do mercúrio existente nos rios, e facilmente perceberemos, que aquilo que consumimos como produtos alimentares constituiu um importante factor a afectar os delicados mecanismos que regulam a reprodução feminina.
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FG: Qual a relação entre idade e infertilidade?
JLSC: O avançar da idade diminui a fecundidade. Isto é sobretudo verdade para a mulher, que ao ultrapassar os 35 anos sofre um declínio muito acentuado da fertilidade. Esse declíneo ocorre pela diminuição da quantidade e qualidade dos ovócitos disponíveis no reservatório ovárico, pois vão sendo “gastos”, “deitados fora”, ao longo da vida.
A partir de meados da 4ª década da vida, o que resta disponível no “reservatório” é já pouco e de menor qualidade.
FG: Qual a relação entre peso e infertilidade?
JLSC: A “produção” de um óvulo de qualidade, que assegure um embrião e gravidez saudáveis, é resultado de um complexo mecanismo em que podem interferir múltiplas glândulas endócrinas. O sistema nervoso central, o hipotálamo, o tecido adiposo periférico, a suprarenal, a tiróide, a hipófise e finalmente o ovário. É da conjugação das influências dos produtos elaborados por estas glândulas, como orquestra com dezenas de instrumentos que têm que tocar em conjunto e afinados, que resulta a produção de um óvulo de qualidade. As variações no peso, quer por defeito quer por excesso, são dos factores mais importantes no desafinamento desta orquestra, isto é, na muito sensível relação de funcionamento entre estes órgãos endócrinos, que resultará em anovulação ou ovulação de fraca qualidade.
FG: Quais são as causas mais comuns de infertilidade masculina e feminina? Em que consiste cada uma delas?
JLSC: São múltiplas.
Na mulher, predominam os factores tubo-peritoneais (alterações da permeabilidade e/ou da motilidade /função das trompas), as perturbações da ovulação e a endometriose, as doenças uterinas, entre outros.
No homem, os principais factores relacionam-se com diminuição da quantidade e da motilidade dos espermatozóides, bem como com alterações da sua morfologia. Sendo muitas das causas desconhecidas, os factores genéticos, os de natureza profissional e os relacionados com infecções e tóxicos assumem relevância.
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